Thursday, November 03, 2011

Carta a Fernando

Fernando, se cá estivesses não sei se falava contigo até me falharem as palavras ou se ficava no silêncio a trocar ideias mudas. Sei que és a pessoa mais igual a mim do que qualquer outro humano. O que pensas é o que sinto e o que escreves é a minha dor. Sou fragmentada como tu e quando me olho ao espelho é um fascinante teatro.


Dependo do dia e das horas,
do mundo mas não das modas,
do sol e do vento :
do clima e do tempo.

Refaço-me espontaneamente,
já sou outra quando dou por ela!
acontece-me constantemente,
estou livre e numa cela.
É bom ser muitas pessoas,
ao mesmo tempo não sei quem sou,
tenho memórias más e boas,
estou perdida e simultaneamente não estou.

Quero conhecer as minhas verdadeiras cores,
mas quando as sei já não as tenho,
tenho prazeres e dissabores,
o meu mundo é muito estranho.

Gostava que me explicasses como te resignaste assim,
porque me acontece o mesmo a mim,
e eu não sei lidar comigo,
nem me traçar um auto-retrato...

A verdade é que também não lidaste bem,
e ficaste maluco também,
mas sabes?, não te censuro,
porque foi apenas um muro,
uma parede que construíste,
para te isolares, porque ninguém te entende,
diz-me o meu coração (e ele não mente).

Mas pensando bem, tu criaste vidas para cada pedaço da tua alma,
e assim tornou-se impossível junta-los pois estavam tal apartados uns dos outros.
Foi a tua sentença e ruína.

Não quero o mesmo fim que tu, queria tentar unir os meus fragmentos e remendá-los só, de forma a não ser uma pessoa colectiva mas nem tanto singular, sem ambígua e irregular mas pelo menos conhecer-me.

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