Reparo na garrafa : está a meio.
De cada vez que volto a encher o copo, está mais vazia, até que acaba. Tento criar um espelho com o copo e observo-me. Esta imagem desfocada e turva que me representa é também o meu auto-retrato psicológico. Quem era eu antes desta garrafa chegar ao fim e quem sou eu depois de a beber?
O meu cérebro borbulha neste líquido e o meu espírito dança com ele. Mas se não o bebesse, estaria eu à conversa com a solidão? Chorando as minhas mágoas e contando-lhe que não faço sentido? Quem sou eu, agora que ninguém me ama? Depois de uma infância perdida e agora, no fim da fase adulta, para que sirvo?
Baralho os meus pensamentos e tropeço nas palavras do meu monólogo. Afogo-me no alcoól que me consome e apago a angústia que tenho em não me saber, e fico só com a dúvida.