Friday, November 13, 2009

À descoberta de mim

Reparo na garrafa : está a meio.
De cada vez que volto a encher o copo, está mais vazia, até que acaba. Tento criar um espelho com o copo e observo-me. Esta imagem desfocada e turva que me representa é também o meu auto-retrato psicológico. Quem era eu antes desta garrafa chegar ao fim e quem sou eu depois de a beber?
O meu cérebro borbulha neste líquido e o meu espírito dança com ele. Mas se não o bebesse, estaria eu à conversa com a solidão? Chorando as minhas mágoas e contando-lhe que não faço sentido? Quem sou eu, agora que ninguém me ama? Depois de uma infância perdida e agora, no fim da fase adulta, para que sirvo?
Baralho os meus pensamentos e tropeço nas palavras do meu monólogo. Afogo-me no alcoól que me consome e apago a angústia que tenho em não me saber, e fico só com a dúvida.

Thursday, November 12, 2009

Amor sujo ?!

Abres-me as portas vazias da experiência,
vazias dum conhecimento que nem queres ter.
Vens, vais, regressas a mim e integras a minha alma,
cospes sentimentos e divagas: expeles emoções.
Sei que não me amas; é-te indiferente.
Mas voltas ao murmúrio das palavras e dizes "amo-te";
adoptas o que sinto e tomas como religião, sem teres fé.
Corrompes o meu espírito e atiras-me proposições de amor.

Serei céptica ao duvidar que me queres,
serei injusta ao saber e não que é mentira?

Thursday, June 25, 2009

Relembrando ontem à noite lembro-me de pequenas sensações.
Lembro-me de me encostares a ti e encostares os teus lábios aos meus, e de ficarmos assim, eternamente. Lembro-me que me puxaste para ti só com uma mão posta nas minhas costas e fechaste os olhos para me beijares.
Vá, torna-te em mim. Toma-me como tua. Aspira-me as entranhas e consome-me por dentro. Suga-me os sentidos, não quero ponderar, quero saciar o que paira sobre nós sempre que estamos juntos, sem hesitar, sem considerar o erro.
Repara, disseste 'nunca foste, não és, e nunca me serás indiferente'. Mas de que servem as palavras agora? Não as podemos cumprir, apenas servem para desapertar nós na garganta que sentimos sempre que nos olhamos. É pecado? Eu considero. E tu também, mas não queres pensar assim, porque queres-me ter durante mais tempo.
Não posso esperar por ti nem vou fazê-lo, mas, já sabes que, independemente de tudo, não há nada no mundo que possas fazer (e sei que já tentaste de várias formas) para me poderes eliminar da tua cabeça. Por isso vive comigo que eu não te olho mais, e segue o que tens a fazer. Não há problema, porque é a maneira mais correcta que tens de gostar de mim e de não deixares de gostar de ti próprio.

Wednesday, May 20, 2009

Jogo mental

«Não feches os olhos», penso para mim. Se fechar os olhos, a tentação tolda-me os sentidos e revivo todos os beijos que me deste. Basta pestanejar para te sentir aqui comigo, o teu cheiro, o teu toque, tudo tão presente em mim. Mas faça o que fizer, estás por perto, e a fortaleza que construí para não me invadires, está apenas a um pensamento de distância para ser corrompida.
Nada destrói este jogo mental, os dados estão viciados e as personagens não mudam. Daí que te tornes uma obcessão, «hoje és inatingível, mas amanhã talvez não», mentalizo. E a situação é infindável até eu encontrar um final feliz, que me console num sorriso. Hoje é apenas mais um dia de batalha, como foram muitos outros, «mas este é diferente, tu desejas-me aos poucos». Então, contrario o desejo?! Nunca, se ele me faz feliz!!
Então pinto o passado com as cores do presente, «mas assim estou a distorcê-los e o passado não mente», apercebo-me. Mas não. Estou apenas a conjugar tempos verbais em conjunto. Eu sei, eu sei distingui-los. Apenas aprecio saborear o passado porque já não me magoa e porque é bom reconstruir boas memórias como estas, tão desejáveis e invejáveis, para as sentir, adorar e entranhar.

Wednesday, March 25, 2009

Posso. (?!)

Devo ignorar a química entre nós? Será que posso? Deixas-me? Não sei qual de nós torce mais para ser real, qual de nós torce mais para não existir.
Ainda hoje me lembro daquele abraçar de lábios tão efémero e fugaz, tão apertado e repentino; involuntário. Aquele fechar de olhos tão forçado e, sem nos apercebermos, não desejado. Aquela junção de bocas lábis, doces ; aquele beijar tão academico -quase que mecanizado- tão pensado e já aperfeiçoado. Naquela altura, lembro-me, realizei que estava liberta do teu feitiço, solta das tuas vis e fortes amarras, pois nada senti através do beijo. Baloicei as flores e rodei as saias, mas em vão: jamais estarei livre do teu comando, nem nunca estive tão pouco. Talvez aquele entrançar de línguas fosse sentido e amado, talvez fosse um deleite não planeado. E agora e todas as vezes que voltas a mim, ao meu ombro, colo e boca, sei que está destinado, e que todos os braços a que eu recorra e para os quais eu corra, nenhuns farão o encaixe perfeito e genuíno que nós conseguiamos, nenhuns me confortarão como tu confortavas, nenhuns me enterneciam como só tu sabes.
E agora sei, que toda e qualquer mão que me toque, não verá a silhueta e os contornos do meu corpo, não será experiente nesta viagem anatómica, pois só as tuas mãos são donas de mim e só elas imperam prepotentemente o meu corpo.

Tuesday, March 10, 2009

Equilibrio

-Olha as núvens ! Movem-se rápido e camuflam-se a meio da corrida. São batoteiras, se eu fosse árbitro elas eram penalizadas.
- Então… e porquê?
- Achas justo que umas sejam dragões e outras pequenos passarinhos?
- E não é assim a lei da vida? Uns mais fortes e outros mais fracos?
- Somos meras crianças, a vida para nós leva um rumo mais idealista. Eu mal sei o que é a vida, quanto mais uma lei da vida! Quem criou as leis da vida…? Hm, Não sei. Mas seja quem for que as tenha criado, deu-me uma ideia.
- Qual?
- Que também sou livre de as criar. As leis são uma aplicação da justiça, e quem cumpre uma lei da vida e é injustiçado não sei o que tem na cabeça. Somos livres, porque não as contrariar?
- Tens razão, não tinha pensado nisso. Mas então como fazemos uma lei? Ou melhor, como fazemos com que a lei que criámos seja aplicada no dia-a-dia?
-Ora, mas eu não sou uma enciclopédia, muito menos o génio da lâmpada. Como hei-de saber? Só pensando…e muito! E para isso preciso de tempo…muito!
- Nesse caso, podemos ir começando por tornar as coisas mais justas na àrea mais próxima de nós… aplicar as leis nas pessoas que nos rodeiam! E vamos crescendo, e vamos tentando. Nunca te separes de mim e então encontraremos uma solução juntas. Para além do mais, equilibramo-nos uma à outra: umas vezes, és tu o dragão – salta-te a tampa e ficas fula, és protectora e mandona; outras sou eu. E quando eu sou o dragão, tu és o passarinho – ages mais subtilmente mas consegues, também como o dragão, muito do que queres; és encantadora e prestável. No entanto, o dragão pode parecer mau, mas não é verdade. A junção dos dois animais faz um equilíbrio perfeito, uma dupla quase que imbatível. Quem sabe, poderemos um dia, mudar o mundo e torná-lo nosso. É o nosso mundo.

Tuesday, February 24, 2009

M - mulher

Carrega no batôm, calça esses saltos, balança a cintura e cruza as pernas ao andar.  Marca o teu olhar  e diferencia o teu andar, evidencia a tua sensualidade. 
És uma mulher, tens o dever de provocar e, se quiseres, depois rejeitar.

Saturday, January 24, 2009

Vive!

Deita fora as palavras, atira-as a um rio. Hoje ele vai precisar mais delas do que nós. Não sussurres, não verbalizes nada. Da tua boca liberta apenas suaves suspiros. Vem para mim, sente só. Que teu coração bata como nunca bateu, que tua respiração ofegue como nunca ofegou. Vive agora, intensifica as tuas acções, os teus sentimentos, mas não as tuas palavras. Já as proferiste, já chegaram a mim, agora esquece-as. Cai comigo numa falésia de emoções, sobe comigo às núvens. Saboreia os momentos lentamente, e revive-os se for preciso. Aprecia o vento a cada momento, imagina-me nele, e envolta em ti. Deixa o prazer palpitar nas tuas veias e fecha os olhos para o manteres.
Hoje esquece as palavras, e experimenta sentires só, apurares os teus sentidos. Hoje terás uma nova perspectiva do amor.

Thursday, January 22, 2009

Nada nos priva deste amor


Nada nos priva deste amor, mas tudo o ameaça. Quem não o espalha, quem não o difama? Todos o fazem; todos o afectam.
De que importa querer ser tua, se tu agora não queres propriedades? Para quê ver-te como vejo, com carinho e desejo, se tu não me queres aceitar nem confirmar o que sentes?
Mas não me esqueças. Não passes uma borracha por cima de mim. Não nos esqueças. Não murches as rosas do nosso amor...deixa-te sonhar connosco; comigo.
Não ponhas o preto no branco, e se puseres, mistura-os, deixa a tua visão turvar.
Deixa o sonho nos guiar e vamos amar-nos por momentos...
Eu olho-te, tu olhas-me, eu mordo o lábio, tu elouqueces.
Tu observas-me, eu fito-te, tu aproximas-te, eu fico anciosa.
Eu toco-te, tu mimas-me, eu perco a saliva, tu perdes a cabeça.
Tu beijas-me, eu entrego-me, tu amas-me, eu arrepio-me.
Podes só me desejar agora, mas nada nos priva deste amor, e tu vais-me querer para sempre.