Friday, October 08, 2010

Tinha mais um lugar na cama. E não era um lugar a mais, porque o reservei para ti. Mesmo quando não vinhas conseguias-me aquecer, porque eu sabia que estavas por perto e que o lugar era teu. Hoje não passa de um espaço livre na minha cama : uma almofada a mais e mais uma zona fria onde não entram os meus pés. Não sei porquê mas deixaste de vir. A almofada voltou a estar imaculada e os lençóis já não amarrotam tanto. Por mais que olhe para o lado jamais pensarei que estás a meu caminho para me enroscares a ti e me embalares e sussurrares enquanto adormeço. O meu coração está tal e qual a minha cama : a meio; e a cada lágrima que foge sinto mais um troço dele a cair. Não aguento esta solidão mas não voltas, tento sonhar-te mas fica ainda mais doloroso, tento esquecer-te mas não posso porque sei que me queres, tento amar-te e é só o que consigo mesmo estando a arrancar pedaços do meu coração.

Sunday, June 13, 2010

Meaning of life

Quero expôr o meu mundo interior e fazer dele uma aldeia, uma vila. Quero projectá-lo nesta tela enorme e redonda que é o planeta e habitá-la de todos os tipos de seres.
Que me importa o formato ou a cor das criaturas?
Quero impregná-las de sensações fantásticas e de pensamentos distintos, quero emocionar-me com as interacções entre elas e vê-las qual teatro à minha frente, e com tal vivacidade que esse mundo que saiu volte a invadir-me o espírito e a baloiçar tudo cá dentro!
Mais que tudo, quero realmente que esse mundo seja o futuro. E não me importo que não seja o meu futuro, se for o de alguém!
Quero que o futuro possua vidas cheias, e não apenas simulações mecânicas e pré-fabricadas. Quero sentimentos em forma de flores e até notas musicais a rodopiarem à minha volta, corações a apertarem-me e a encherem-me de calor e frio, dúvidas e certezas!
Quero sonhos, e que os sonhos sejam as vidas, e que os sonhos e ambições não sejam palpáveis!

(...)
Delicio-me com a forma como prestas culto ao meu corpo e como o mimas com leveza dentro dessa excitação e loucura que sentes quando o vislumbras. É de porcelana e por isso não o deixas cair, é de barro por isso usas as mãos para o moldar ao teu gosto e gesto.
Sublinhas os meus contornos e desenhas a minha silhueta com os teus palmos. E vão preenchendo e colorindo a minha figura à medida que se afastam dos limites para o centro, como se toda eu fosse uma criação tua, ou pelo menos fosse feita para encaixar nos teus membros superiores.

Devaneios

Ao longe ouço o correr da àgua da cascata. Prendo os meus ouvidos e ensino-os a morder as sensações. Não quero perder este som nem vai cair no esquecimento. Agora é meu e moldo-o como quero.
Ao longe e mal, mas vejo o escorregar relutante da àgua da cascata. O rumo já traçado puxa-a e obriga-a. Toda a imagem me tranquiliza e quero vive-la até não-mais. Estas carícias que a minha mãe natureza me dá fazem-me sentir no topo da cascata.
Num alucinar, caio de chapa ao rio que me toma como dele, corro pela floresta que me é a melhor cidade de todas.

Thursday, February 11, 2010

Eu, Pessoa - "Tudo o que faço ou medito"

" Tudo o que faço ou medito
fica sempre pela metade ",
elevo o espírito e a vontade,
mas o labirinto é infinito.

O desejo é utópico,
e a escada cansa,
a luta continua
e a vida avança.

O corpo progride, a alma estagna,
nem com trabalho e esforço
alcançamos o inalcansável.
O que tenho não gosto,
o que tenho é o palpável.

Não há transposição para o real.
Imagino, crio,
e tudo se esvaece por entre os dedos, por entre o sal
das minhas lágrimas que formam um rio.

Sonho, penso,
um universo denso
transforma-se em átomo desconhecido,
um nada, sem nexo, sem sentido,
quando o exponho, na verdade.

"Tudo o que faço ou medito,
fica sempre pela metade,
querendo, quero o infinito,
fazendo, nada é verdade."