Ainda hoje me lembro daquele abraçar de lábios tão efémero e fugaz, tão apertado e repentino; involuntário. Aquele fechar de olhos tão forçado e, sem nos apercebermos, não desejado. Aquela junção de bocas lábis, doces ; aquele beijar tão academico -quase que mecanizado- tão pensado e já aperfeiçoado. Naquela altura, lembro-me, realizei que estava liberta do teu feitiço, solta das tuas vis e fortes amarras, pois nada senti através do beijo. Baloicei as flores e rodei as saias, mas em vão: jamais estarei livre do teu comando, nem nunca estive tão pouco. Talvez aquele entrançar de línguas fosse sentido e amado, talvez fosse um deleite não planeado. E agora e todas as vezes que voltas a mim, ao meu ombro, colo e boca, sei que está destinado, e que todos os braços a que eu recorra e para os quais eu corra, nenhuns farão o encaixe perfeito e genuíno que nós conseguiamos, nenhuns me confortarão como tu confortavas, nenhuns me enterneciam como só tu sabes.
E agora sei, que toda e qualquer mão que me toque, não verá a silhueta e os contornos do meu corpo, não será experiente nesta viagem anatómica, pois só as tuas mãos são donas de mim e só elas imperam prepotentemente o meu corpo.