Tuesday, October 21, 2014

a nossa história - parte 1

É fora do comum como é que passado tanto tempo do que se passou entre nós eu ainda não escrevi nada. Eu acho que é porque não sei o que pensar sequer; se já pensei e não tirei nenhuma conclusão ou se ainda nem pensei porque acho melhor assim.

A verdade é que sempre fomos o jogo das cadeiras. A música tocava e estávamos nós a volta do óbvio, quando a música parava tentávamo-nos sentar, sempre separados, em locais diferentes. Não sabia ao certo se a música era a mesma para os dois ou até se parava ao mesmo segundo, mas gostava de imaginar que sim.

As raparigas têm muitas fantasias e imaginam sempre significados ocultos naquilo que mais simples e objectivo não poderia ser. Eu por acaso sempre fui das que menos sonhava com grandes paixões, nunca via muita utilidade para isso nem queria perder tempo de diversão para me dedicar a problemas amorosos. Por isso sempre tive uma tendência para ser mais objectiva no que toca a flirts, mais directa também, o que me fazia perder menos tempo, e ao mesmo tempo ser menos afectiva.

Ainda não percebi porque é que sempre que tive ‘relações’ não me entreguei de coração, pois nunca tive problemas no que toca ao elemento físico que cria a faísca nas paixões, mas chegava ao momento de eu realmente sentir alguma coisa e sentia umas saudades que doíam (não vou mentir), sentia-me triste e sozinha e principalmente carente. Mas vim aprendendo ao longo do tempo que isso de nada representa o amor, eram situações que se resolviam com um novo interesse ou troca de mensagens, um novo conhecimento ou um caso fugaz, enquanto que um amor dura a curar. Nunca me cheguei a afeiçoar a ninguém verdadeiramente; nunca deixei de ser carinhosa porque naturalmente o sou, mas não por razões de genuíno interesse noutra pessoa, apenas por me sentir bem na companhia dela. Sempre compreendi o amor e sempre gostei de o utilizar para embelezar os meus escritos mas o que sabia dele era em abstracto e nunca o senti na pele, palpitando nas minhas veias. Posso imaginar como se sente quem é vítima dele mas na realidade não o conheço. Conheço o amor, na minha experiência pessoal, na sua vertente de amizade, e aí conheci um verdadeiro sofrimento e interesse pelas pessoas, um medo de as perder, um instinto protector e por vezes até maternal, e conheci a entrega de mim mesma, sem medo de ser quem sou com todas as componentes subliminares e subjectivas que me constroem. Mas em relação a um rapaz com quem me partilhava, a partilha terminava no campo visual: aquilo que sou, aquilo que me compõe, o que transmito ser e o que aparento. Nunca fiz questão de contar os meus sonhos e os meus projectos íntimos, os meus textos e os meus pensamentos mais pessoais, o meu lado que se esconde por detrás daquele meu que mais alicia e mais sobressai, o meu lado estúpido e brincalhão, o meu lado divertido.

E com o passar do tempo esse abismo entre os meus dois lados tendeu a crescer, com quem tinha alguma coisa (mesmo não sendo substancial), ficava-me a conhecer tal e qual como eu me apresento e, dessa forma, objectiva, talvez provocadora, despreocupada, divertida e não propriamente sentimental.

(to be continued...)